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Meus Primeiros Passos no Canal Vermelho

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Capítulo 1 – A Adúltera

Salve Deus!

O dia começava a clarear na Terra e a Clarividente apressava sua volta ao corpo, após longo tempo de permanência nos Planos Invisíveis. Fizera mil coisas, estivera em muitos lugares e recebera valiosas lições. Em seu coração e sua mente pulsavam as inúmeras preocupações relacionadas com sua missão na Terra. No momento pensava no retorno ao corpo que dormia a tempo de retomar as tarefas do dia a dia.

Habituada às caminhadas fora do corpo, mal percebia as fantásticas nuances de tempo e espaço; às vezes andava, outras levitava e se transportava em frações de segundo. Tempo e espaço, Entidades de Luz, Espíritos Sofredores, tantos enredos; às vezes sentindo-se tão grande e às vezes tão pequena…

Pensou que estava na Terra, mas estranhou o ambiente. As árvores eram simétricas, as ruas e casas pareciam feitas de plástico e o ambiente variado. Pessoas se movimentavam, mas tudo parecia irreal, nas cores, na iluminação e nos movimentos. Percebeu então que não era notada e sentiu certo alívio. Sua mente ágil se reajustava à nova situação, concentrou-se por um breve instante e logo sentiu a emanação de Amanto, cuja presença a colocou de imediato em estado receptivo. Amanto era o velho amigo de Capela, o Guia de tantas viagens, um dos Mestres mais constantes a mantê-la atualizada em sua luta doutrinária. Despertou sua atenção uma longa fila de pessoas que se movia lentamente e cuja frente se perdia na distância. Ia interrogar Amanto a respeito quando ouviu gritos de uma mulher que clamava algo em voz alta. Pelas palavras proferidas, Tia Neiva entendeu que ela se referia ao marido e que este estava para chegar. Chegar aonde?

– Ao Canal Vermelho, Neiva.

– Canal Vermelho?

– Sim Neiva, o Canal Vermelho! Onde você e eu nos achamos neste momento.

– Mas onde estou? Na Terra?

– Sim, na Terra, na sua camada etérea, no invisível do Planeta; no Mundo dos Espíritos desencarnados que ainda não têm condições de chegarem às Estrelas ou ao Planeta Mãe.

– E essa fila, para onde vai?

– Vai para o embarque. São Espíritos que não precisam mais permanecer aqui, que já se conscientizaram de sua condição de Espíritos Desencarnados; completaram seus reajustes, e vão agora para as Casas de Recuperação, de Refazimento.

– Mas esses Espíritos não têm Evolução?

– Não muita. Na verdade eles vêm aqui apenas para completar o seu tempo e receber alguma disciplina.

– É lindo este lugar (exclamou Tia), olhe que casas bonitas! E aquelas árvores? Aquilo que estou vendo pendurado nelas; o que é aquilo?

– São Placas Doutrinárias, uma espécie de sinalização. Poderíamos talvez compara-las com aquelas advertências de trânsito das estradas da Terra, embora não sejam realmente isso.

A Clarividente teve sua atenção novamente despertada pelos gritos da mulher que recrudesciam. Pelo que pode deduzir das palavras, ela maldizia a Deus por permitir que o marido viesse para o Canal Vermelho, em vez de ser enviado ao “Inferno”.

– Mas Amanto, que coisa esquisita! Como é possível isso?

– Sim Neiva, isso é perfeitamente possível aqui, pois é o melhor lugar para esses acontecimentos, aliás, ele foi criado para isso. Não esqueça que o Espírito só se acalma quando se vinga. Essa mulher foi assassinada pelo marido que a pegou em flagrante com outro homem. Como você bem sabe, isso na Terra é um ultraje, uma ofensa grave. Naturalmente ela se sentia justificada no que fazia. E a morte brusca a deixou sedenta de vingança. Daí a sua presença aqui no Canal Vermelho, onde as paixões ainda vibram, mas tendem a se extinguir.

– Mas porque aqui e não em uma Casa Transitória, num Hospital do Espaço? Não é para isso que foram feitas as Casas Transitórias?

– Aqui também é uma Casa Transitória Neiva, só que em condições técnicas especiais. Este Canal tem comunicação direta com o Plano Físico, o que permite a transferência do Ectoplasma Humano, diretamente por seus portadores. Com esse Fluído os reajustes podem se completar em condições muito semelhantes aos da Terra Física.

– Você disse “diretamente”, como explica isso?

– Simples Neiva, os Médiuns ativos quando vão dormir, se transportam para cá e trazem com eles a preciosa Energia Mediúnica. Na verdade eles vêm para o Canal quando na Terra é noite, e continuam aqui as tarefas que iniciaram durante o dia.

– Bem Amanto, você sabe que eu posso entender perfeitamente, mas isso tem que ser explicado para nossos Médiuns e eu gostaria de mais detalhes, você sabe, não? Afinal você é o professor e eu sou o “burrão”.

– Não Neiva, você não é o burrão como você diz, acho que você é mais um “burrinho” de Francisco de Assis… Mas deixemos isso de lado e vamos exemplificar (continuou Amanto).

– O tempo do presente Ciclo da Terra está quase terminando e com isso todas as atividades estão sendo aceleradas. Milhões de Espíritos ainda têm que completar seus reajustes e a tarefa dos Mentores Espirituais é imensa. Não existem na Terra trabalhos de passagem o suficiente para dar conta de tanto Espírito; a doutrinação é incompleta, o Ectoplasma não dá e o tempo dos trabalhos é curto demais. Por isso os Engenheiros Siderais construíram Canais como esse, particularmente, este Canal se comunica diretamente com o Templo do Amanhecer. Quando o Doutrinador faz uma Entrega e o Espírito ainda não está pronto para Mayanty, ele vem diretamente para um dos Departamentos do Canal. Na primeira oportunidade, que pode ser na mesma noite ou algum tempo depois, o Doutrinador vem completar sua Doutrina. Ele como Encarnado, tem a capacidade de trazer consigo seu ectoplasma. Devido à semelhança de ambiente, o Espírito ainda se sente na Terra e é mais susceptível de receber a Doutrina. É por isso que o Templo do Amanhecer trabalha 24 horas por dia, como vocês dizem.

– Quer dizer que o Canal é uma extensão da Terra?

– Num certo sentido sim, embora tudo aqui seja matéria etérica de outra natureza, outra dimensão. Mas da forma que na Terra Física, as Energias que suprem o Canal são oriundas do Sol e da Lua.

Amanto calou e Tia percebeu nisso um sinal de que era hora de voltar para seu corpo. Olhou mais uma vez o cenário e sentiu-se tocada pela beleza do lugar. Mais uma vez ouviu a mulher que continuava a gritar e pensou consigo:

– Meu Deus, não é justo que um assassino seja colocado num lugar tão bonito, num ambiente tão espiritual…

Naturalmente a mulher tinha consciência do lugar em que se encontrava, e também achava injusto que seu próprio algoz fosse levado para lá. Imediatamente lembrou-se da “Lei do Não Julgamento”, reequilibrou o pensamento procurando olhar o assunto por outro ângulo.

A mulher também havia provocado aquela situação, esquecendo-se de seus compromissos conjugais, provocando o marido a esse extremo.

– É (pensou), no fundo os dois são culpados.

– Será que Tia acordou?

A frase quotidiana de suas manhãs lembrou-a que já estava em casa…

 

Capítulo 2 – Mestre Jacó

Salve Deus!

Na Terra era ainda madrugada, mas no Canal Vermelho as luzes se sucediam produzindo climas tristes e alegres conforme as nuances. A Clarividente sempre se extasiava com esse jogo de luzes que presenciava, também em outros lugares do Etérico. O fenômeno produzido pela luz solar tinha alguma semelhança com as luzes que se projetavam nos palcos dos teatros…

Amanto chegou e depois de cumprimentar Tia afetuosamente, foi logo dizendo:

– Venha, vou lhe mostrar as coisas que precisa saber a respeito do Canal Vermelho. Vi como você ficou impressionada com aquele caso do homem.

– Realmente fiquei um tanto confusa (respondeu Neiva).

– Aqui vivem Espíritos em trânsito, pessoas que não completaram seus programas na Terra.

Enquanto ele falava, a Clarividente aperfeiçoava a noção de que as coisas ali pareciam com as da Terra. As árvores, porém são todas simétricas e a relva fazia pensar naquela grama de nylon que se usa em certos estádios. No meio da relva apareciam algumas flores amarelas semelhantes às margaridas. Em meio ao verde azulado apareciam as casas, verdadeiras mansões cujo colorido era estranho…

– Não se enleve muito Neiva, seja natural e objetiva.

A observação de Amanto quase a encabulou, porém acostumada como estava com esse tipo de disciplina, agradeceu e seguiram.

Aproximaram-se de um prédio maior em cuja fachada havia um grande letreiro. Suas luzes apagavam e acendiam como nos luminosos da Terra e nele se lia: “Credo Universal”. Como Amanto não a convidou para entrar, Tia com facilidade projetou sua visão no interior e logo percebeu o que ali se passava. Acostumada, porém, com a didática de Amanto, ficou na expectativa. Não demorou muito e notou que se formava uma fila na entrada, mas, que as pessoas permaneciam como que indecisas. Para seu espanto o letreiro mudara como por encanto e se lia claramente a palavra “Umbanda”.

– São Umbandistas? E porque não entram?

– Sim! São Médiuns recém chegados da Terra, Médiuns Umbandistas que cometeram faltas contra as Leis da Umbanda.

– Faltas? Que espécie de faltas?

– Comerciaram, negociaram sua Mediunidade e com isso deturparam essa Doutrina tão bela que é a Umbanda.

– Agora, o que vai lhes acontecer?

– Agora vão sofrer um pouco; vão se conscientizar até que cheguem seus cobradores para os reajustes.

– Reajustes? Como?

– Com as pessoas que lhes deram dinheiro e com os Exús com quem trabalharam. Como você sabe Neiva, os Exús são um pouco produto da ganância dos seres humanos. As invocações e chamadas só fazem aumentar suas forças. O Médium que os invoca lhes dá oportunidade de se afirmarem nas suas metas e isso nada tem a ver com a Umbanda…

Enquanto Amanto falava, a Clarividente prestava atenção na intensa atividade de Espíritos que iam e vinham, nos seus afazeres e missões. Subitamente tudo mudou, as cores ambientais, a atitude das pessoas, a paisagem; formou-se um ar de mistério e hostilidade palpável. Tia teve medo e perguntou:

– Amanto, qual é a minha finalidade aqui?

– Em todo lugar que você estiver Neiva, é sempre para emitir, para proporcionar.

Ela não entendeu e ficou na mesma, enquanto Amanto prosseguia:

– Acabam de se libertar de Pedra Branca três Espíritos e esse é o motivo pelo qual eu a trouxe aqui hoje. Veja, lá vêm eles!

Das três figuras que se aproximavam da Mansão, dois homens e uma mulher, destacava-se a figura de um homem amorenado, aparentando 50 anos e de semblante triste. Ele caminhava com ar inseguro, olhando de um lado para o outro como se estivesse coagido.

– Esse homem (disse Amanto), foi um grande dirigente umbandista, e toda essa mudança de ambiente que você percebeu se deve a sua presença aqui.

Fazendo eco às palavras de Amanto, ouvia-se o clamor de muitas vozes que aclamavam o recém chegado com entusiasmo, contrastando com o ambiente sombrio.

– E esses que estão com ele, o homem e a mulher, morreram junto com ele?

– Não! O casal já desencarnou há algum tempo, ao passo que “Mestre” Jacó fez sua passagem há apenas oito dias.

De repente a mulher percebeu a situação e saiu correndo, e Tia Neiva assustada gritou:

– Amanto! Olhe, acho que não há condições aqui para ela!

– De fato Neiva, a situação dela é bastante difícil. Ela enganou Mestre Jacó, explorou demais a sua boa vontade, fazia-se de vítima e traçava o retrato do marido à sua maneira. Mestre Jacó deixou-se enganar e, apesar de suas boas intenções, acabou procedendo desonestamente. Essa atitude de uma falsa justiça provoca débitos cármicos e a vingança se torna imperativa.

Tia então perguntou como seria resolvido aquele drama e Amanto lhe respondeu que cada um teria o que merece.

– A Justiça de Deus é feita (prosseguiu Amanto), mas, é cobrada por Missão, esclarecendo e evoluindo ao mesmo tempo.

– Como se passou esse drama na Terra?

– A mulher, Tânia Maria, procurou Mestre Jacó e pediu que punisse seu marido José. O romance que ela contou fez com que Jacó se compadecesse dela. Na verdade, Tânia e José estavam em plena fase de reajustes cármicos. As Entidades Cobradoras ali estavam, também em plena atividade cármica. Jacó invocou os Exús e os Cobradores fizeram o resto. Se ele não abrisse o campo de trabalho, se não servisse de instrumento, o reajuste se faria dentro da normalidade cármica. Agora sou eu que lhe pergunto Neiva, o que você faria num caso desses?

– Faria como sempre faço. Esses casos são muitos e eu como Clarividente tenho muita cautela, procurando entender o problema de um e de outro; eu analiso o fato com Mãe Calaça e fecho os ouvidos aos lamentos ou queixas. Depois de receber as ordens de Calaça eu procuro ajudar a parte mais obsediada, melhorando suas vibrações. Pai Seta Branca sempre diz que o homem quando é feliz ele é bom. Eu então procuro proporcionar algo bom ao injustiçado, ou melhor, ao que se diz injustiçado. Evito sempre uma posição emocional, pois o meu juramento a Jesus não permite isso. Trabalho buscando o equilíbrio da mente com o coração e nesses casos prevalece a mente.

– A intenção de Mestre Jacó (continuou a Clarividente) foi de ajudar, e foi muito boa. Mas ele sentia as pessoas pelo coração, deixando-se impressionar pelo que ouvia e isso é perigoso. Até mesmo o maior assassino, zombador das leis, se considera um injustiçado, e além disso é perigoso julgar, quando se está no meio de tão terríveis complexidades. Antes de tudo a gente deve ver a nossa imensa responsabilidade.

– É verdade Neiva, sua evolução está sendo cada vez maior.

– Sabe de uma coisa Amanto? Às vezes tenho vontade de passar um fecho na minha boca…

– Aí você pagaria por preguiça e egoísmo; continue como está que vai muito bem.

Salve Deus!

 

Capítulo 3 – O Suicida

Salve Deus!

Pai Seta Branca, o Mentor da Doutrina do Amanhecer, sempre adverte os Médiuns que não devem julgar e, muito menos tentar analisar os nossos irmãos quando cometem erros…

A Clarividente Neiva teve a oportunidade de comprovar a mesquinhez do julgamento humano, nesta passagem real da vida, de um homem que se suicidara, chamado Lúcio.

O caso começou num dia de consultas no Templo.

Depois de longa espera e vencidas as dificuldades habituais para chegar até a Clarividente, apresentou-se um grupo familiar composto de uma senhora de uns 65 anos, sua nora e um casal de netos de 18 e 16 anos aproximadamente. A anciã apresentava um aspecto sofrido, às vezes soluçando descontrolada. A mãe e os filhos olhavam em torno pouco à vontade, no ambiente humilde e movimentado.

A senhora menos idosa tomou a iniciativa de explicar os motivos da consulta.

– Tia Neiva, viemos até aqui para a senhora nos ajudar, desde que meu marido se matou que temos sofrido muito, principalmente minha sogra que não se conforma.

– É Tia (interrompeu a velha senhora), não me conformo com o suicídio de Lúcio. Me sinto culpada e me dói saber que ele não tem salvação.

– Também não me conformo (atalhou a viúva), eu e Lúcio vivíamos tão bem, criávamos nossos filhos e nosso lar era respeitado. Dediquei toda a minha vida a ele e aos nossos filhos. Eu não merecia isso que aconteceu! O Lúcio deveria ter tido mais consideração conosco, principalmente comigo!

Diante daquela revolta e desabafo, Tia Neiva penalizou-se dela e olhou para Calaça pedindo instruções. Pela expressão da Profetiza Tia percebeu que a história não era bem aquela; havia qualquer coisa errada, ela não era tão inocente assim.

– Eu também tenho sofrido muito (disse o rapaz), meu pai sempre teve muito amor por nós, mas afinal acabou demonstrando que não gostava tanto da gente. Minha avó pensa que ele agora irá penar muito no inferno, eu não acredito nisso e sei que Deus não irá deixar. Ele era bacana mesmo e me compreendia melhor que os outros. Eu vivia brigando com a minha mãe e ele sempre me repreendia por isso, dizia que o filho que não respeita a mãe nunca se realiza. Ele era bacana mesmo, não sei como foi tão fraco.

O rapaz calou-se e a velha senhora continuava soluçando. Tia procurou consola-la e explicando que eram restos de carmas e que logo eles estariam bem.

– Como Tia Neiva? (sua voz tinha um tom de reprimenda), a senhora não entende que ele se suicidou? Que deu um tiro na cabeça? Só Deus saberá onde anda meu filho, meu pobre Lúcio! Um homem tão culto! Ele quis ser médico e acabou tendo a mesma profissão do pai, que Deus o tenha em bom lugar. Era um homem bom, morreu do coração; foi um golpe, porém não tão grande quanto este. Depois eu me casei com outro, que por sinal não sabemos onde está por causa do infeliz Lúcio. Meu filho também esteve separado de mim e só voltou para casa quando meu segundo marido me deixou.

– Foi por causa de seu filho que o seu segundo marido a deixou? (perguntou Tia).

– Não sei, sei que ele queria se apoderar da herança deixada pelo meu marido. Lúcio, meu filho, sempre falava no assunto e acabou ficando decepcionado comigo. Vivia repetindo que o filho não deve pensar nos defeitos da mãe; me beijava e ria, mas creio que tudo era só da boca pra fora.

Tia Neiva ouviu paciente até o fim aquele mundo de queixas e rancores. Depois chamou Tiago, o Mestre que era responsável pelo Trabalho de Tronos Vermelhos, recomendou que fizesse um Trabalho Especial para aquela família desarvorada. Enquanto isso ficou atenta para ver se Lúcio aparecia, porém ele não veio.

Nessa mesma noite Tia encontrou-se com ele no Canal Vermelho. Eunóbio, o Coordenador das atividades dos Médiuns do Vale no Canal, veio ao seu encontro e em pouco tempo foi apresentada a Lúcio.

– Estive com sua família, sua mãe, sua esposa e seus filhos.

– Sim? Meus filhos! Tenho um casal, Márcia e Lucinho. Que pensa de mim Lucinho? A senhora sabe a meu respeito?

– Sei Lúcio, como sei também o que o levou ao suicídio…

– E a senhora (atalhou Lúcio) falou com Lucinho? A pergunta refletia seu desespero, sua angústia.

– Não Lúcio, não falei com ele na Terra. Eu tenho um Juramento que me obriga a respeitar os sentimentos dos outros, e eu seria incapaz de denunciar alguém.

– Pois é Tia, fui suicida e no entanto aqui ninguém me condenou. E foi aqui Tia, que eu aprendi a respeitar os outros. E minha mãe?

– Sua mãe Lúcio, sofre a maior dor!

– Meu Deus! (gemeu Lúcio).

– Lúcio, sua mãe optou pelo homem que amava; foi quando você a deixou pela primeira vez, embora devesse ter optado pelo filho…

– Sim Tia, foi horrível o que aconteceu aquele dia. Meu padrasto me esbofeteou na frente dela e disse que um de nós dois tinha que sair daquela casa. E minha mãe virou-se para mim e disse: Meu filho, vou leva-lo para a casa de sua avó, a mãe do seu falecido pai. A decepção foi tão grande Tia, que nunca mais me recuperei, apesar de todo o carinho que minha avó me dedicou. Minha mãe não me quis, preferiu estar ao lado do homem que gostava.

– Eu sei como é isso meu filho, mas no fundo aí é que estão os enredos cármicos de vidas anteriores. Só o reajuste e o amor podem reequilibrar o homem que passa por traumas como esse.

– E minha mulher, como está ela?

– Ela está bem.

– Sabe Tia, desde aquele dia em que entrei na casa de Marcelo, que era meu melhor amigo, ouvi a voz de Edna no interior da casa… Ali que meu drama começou. Marcelo muito nervoso veio ao meu encontro e eu perguntei de quem era aquela voz. Ele gaguejou, mas disfarçou dizendo que eu não ouvira voz alguma. Que não havia ninguém. Desci do apartamento cheio de suspeitas e fiquei escondido em frente. Vi então quando ela desceu e saiu apressada. A partir daí tudo o que acontece com um homem traído pela esposa, aconteceu comigo. Fiz uma viagem tentando por a cabeça no lugar, mas de nada adiantou. Tentei me enganar colocando em dúvida o que havia visto, mas isso também não resolveu. Edna e Marcelo continuaram tranqüilamente a me trair. Chegou um ponto em que eu não agüentava mais a situação. Decidi mata-los, mas só de pensar no que poderia acontecer com Lucinho e Márcia. Senti medo, decepcionar o menino com a própria mãe? Lembrei-me de meu próprio sofrimento em relação a minha mãe. A partir daí achei melhor matar-me, assim pelo menos não ficariam sabendo da traição da mãe. E então suicidei-me.

– Se tudo está bem com meus filhos (retomou Lúcio a palavra após breve instante em silêncio), eu espero aqui o que Deus quiser. Só não quis que particularmente meu filho não passasse pelo que eu passei. Deus há de compreender minha dificuldade, e tenho certeza que um dia ele me perdoará.

– É verdade (pensou Tia Neiva consigo), Lucinho e Márcia estavam bem, vivendo suas vidas sem complexos e amando a mãe mais ainda.

Nisso soou uma campainha e Lúcio avisou que tinha que partir.

– Está vendo para onde irei?

– Você vai para o outro lado desse Canal.

Lúcio partiu e a Clarividente soube que ele iria se preparar para uma nova reencarnação. Pela Lei, ele teria que redimir na carne o erro de sua autodestruição. Soube ainda, que viria portador de uma forte disritmia e sua mãe seria a mesma, porque o primeiro trauma foi proporcionado ao rejeita-lo…

O desequilíbrio de uma mãe desajusta uma família.

Salve Deus!

Com carinho,

A Mãe em Cristo.

Tia Neiva.

PEQUENAS HISTÓRIAS SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE NEIVA

08 – Meus Primeiros Passos no Canal Vermelho

Templos do Amanhecer

CASTELO DOS DEVAS – VALE DO AMANHECER

 

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